quarta-feira, 25 de junho de 2008

Santa de Visão Conturbada

Por Renato Hack Ivo

Joana D’arc é uma santa pouco convencional. Em sua vida ela foi guiada por outras três figuras iluminadas, que lhe apareciam em suas visões, sendo estes, Santa Margarida, Santa Catarina de Alexandria, e o São arcanjo Miguel. Aos 13 anos, teve sua primeira visão, em que são arcanjo Miguel, lhe avisava já da aparição das outras duas santas, e com isso, eles começam a lhe profetizar que ela libertaria a França.
No princípio, foi descrente de sua missão, e com o passar do tempo, ela começou a crer que eles estivessem certos, e começou a desejar ajudar a libertação de sua nação. E seguindo as vozes de seus futuros companheiros, ela, uma pobre camponesa, conseguiu convencer outras pessoas a lhe ajudarem, inclusive o próprio rei, que ficou surpreendido, pelas capacidades da moça. Foi algo tão forte e tão poderoso, que até mesmo, em batalhas tomadas por perdidas, antes mesmo de se começarem, como a de Orléans, ela seguiu as vozes amigas, e conseguiu a derrocada dos ingleses.
Mas da mesma forma, que a virgem de Orléans, ganhou batalhas, por ouvir as vozes desses santos, ela também teve pouca visão, de querer guerrear, mesmo não tendo ouvido comandos, ou qualquer outra forma de expressão por parte deles. Ela havia cumprido com sua obrigação, ao coroar o rei da França, isso era o que lhe haviam pedido os santos, mas ela ainda não estava contente com a situação, e quis tomar Paris, e fracassou, e depois a situação piorou quando resolveu atacar Compiègne, pois ela foi capturada.Já foi muito discutido, e ainda será, as visões de Joana, alguns afirmam ser alucinações, outros afirmam que era histeria e neurose, e alguns apenas crêem na sua figura iluminada, e na capacidade de conversar com os seus santos conselheiros. Porém, o que podemos afirmar, é que ela se tornou uma figura convidativa, e mais próxima de nós, por ter um jeito humano de ser. Ela possuía brilhantes qualidades, e talvez uma aura pura, mas ela errou, ela não foi perfeita em sua vida, e isso a trás para mais próximo de nós, e nos causa fascínio.
VERISSÍMO, Érico. A vida de Joana d'Arc. 10a. ed. Porto Alegre: Ed. Globo, 1978.

Joana, a guerreira


Por Danúbia Kulba da Silva


Joana d’Arc foi uma das mulheres mais fortes e guerreiras que o mundo já conheceu, pertencia a uma família de camponeses, foi educada para ser uma boa esposa, para isso aprendia as prendas domésticas. Fora isso, não recebera outro tipo de educação, era praticamente analfabeta. Ao completar 13 anos a jovem passou a ouvir vozes sagradas: São Miguel, Santa Catarina e Santa Margarida. A primeira orientação feita por essas vozes à Joana foi de que a menina deveria permanecer virgem para obter a salvação de sua alma. Mais tarde as vozes passaram a orientá-la sobre política, dizendo que deveria coroar o príncipe herdeiro do trono, Carlos, mais conhecido como delfim, e salvar a França dos ingleses. Joana foi concebida no ápice da Guerra dos Cem Anos e a situação francesa era crítica tanto na política como na economia. A Igreja estava enfraquecida devido às limitações do papado, para sobreviver em meio aos poderosos a Igreja saiu em busca de alianças.
Com a França em decadência, a Igreja optou por aliar-se à Inglaterra, que até então era a mais forte. Para Joana e sua família, tais alianças significava o início de tragédias, já que o feudo era vizinho de Lorena, onde se localizava o vilarejo de Domrémy. Com isso, as terras da família d’Arc passaram a sofrer constantes ataques. Na época em que os borguinhões se apossaram de vez de Domrémy, em 1428, Joana tinha 16 anos de idade. Com os conselhos das vozes santas na cabeça, decidiu que iria coroar o rei. Tinha consciência de que a paz só seria possível com uma França forte, e que o país só atingiria tal objetivo quando o delfim recebesse a coroa na catedral de Notre-Dame de Reims, conforme a tradição. Decida, Joana convenceu o padrinho, um soldado que já havia se aposentado, a acompanhá-la até a cidade de Vaucouleurs. Ela tinha o objetivo de persuadir o nobre Roberto de Baudricourt, chefe militar e senhor local, a lhe conceder um exército. No primeiro encontro se impressionou com a força e a coragem da jovem, mas não cedeu um exército de imediato. Na espera de uma resposta favorável, Joana ficou vagando por Vaucouleurs. Nesse tempo acabou levando muito soldado na conversa.
Ao tomar conhecimento de que cada vez mais soldados juravam lealdade à Joana, Baudricourt não teve alternativa. D’Arc partiu para o castelo de Chinon, quartel-general do delfim Carlos, juntamente com o duque de Anjou, com os cavaleiros que havia amealhado e com os soldados que Baudricourt finalmente lhe concedera. Ao chegar a Chinon, Carlos já havia sido informado sobre a jovem camponesa, provavelmente louca, que dizia ouvir vozes sagradas. Ficando meio receoso, permaneceu dois dias recluso, discutindo com a corte se deveria ou não recebê-la. Por fim d’Arc convenceu Carlos de que estava ali com um propósito e que era digna de ser recebida por ele. Com tudo, delfim equipou e abençoou Joana em sua Marcha até Orléans. Apesar de estarem em menor número, os franceses contavam com a força, coragem e garra de Joana. A batalha durou alguns dias e os ingleses recuaram.
Em maio de 1429, a França obteve sua primeira grande vitória militar. Joana d’Arc estava pronta para sua missão, a de coroar o delfim, sendo assim, em julho de 1429, Carlos recebeu a coroa do rei na Catedral de Notre-Dame de Reims. Com isso, Joana havia atingido seu objetivo maior, só que sua ambição militar falou mais alto. Partiu para Paris a fim de expulsar os ingleses, em setembro de 1429 invadiu Paris, onde foi derrotada, seus soldados partiram em retirada, mas seu espírito guerreiro resistiu. Joana foi capturada, levada para a fortaleza de Beaulieu e, logo em seguida, para o castelo de Beaurevoir. Tentou escapar de ambas as prisões, mas não obteve êxito, Joana foi vendida pelos borguinhões por 10 mil libras aos ingleses. Em 1430, foi levada a julgamento no tribunal inglês, sendo conduzido pelo bispo de Beauvais, Pierre Cauchon. todas as acusações eram de ordem religiosa: bruxa, herege, idólatra, entre outras. Martírio que durou seis meses, sua sentença foi ser queimada viva.
Cumpriu-se então a sentença, Joana foi queimada viva em uma fogueira aos 19 anos de idade. Foi o fim da heroína francesa.
Foi uma guerreira? E que tipo de Guerreira foi?
Joana empregava consistentemente uma linguagem direta e dedicava-se a resultados práticos, identificava-se com os aspectos mais ativos da cavalaria: o auto-sacrifício heróico, o esquecimento de si mesmo para salvar outros ou em defesa de uma grande causa. Era uma mestra dos símbolos, mas escolhia símbolos simples e de fácil interpretação, seu estandarte tinha a flor-de-lis e as palavras “Jesus Maria”. Que vocação mais direta da religião e do patriotismo seria possível? Seu simbolismo era acessível a todos, nobres e Plebeus igualmente, nada tinha a ver com a cultura da cavalaria, a não ser que a usava a serviço da guerra: seu estandarte era tanto um farol prático quanto um sinal.
Joana apenas arrastada pelo fascínio sobrenatural de seus sonhos e proposta de missão a cumprir segundo a vontade divina e sem saber nada sobre arte de guerra comandou os soldados rudes com seu ar angelical e inocente.



GORDON, Mary. Joana D’Arc: breve biografia. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2000.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Sobre a Guerra dos Cem anos



Por Dinara Seibt e Lucas Miszewski

A Europa estava cercada de importantes acontecimentos entre os séculos XIV e XV, entre eles o final da Baixa Idade Média com o crescimento desenfreado das cidades, revoltas camponesas, a situação de insalubridades rodeadas pela peste negra e pela transição do sistema feudalismo para o capitalismo com as monarquias nacionais.
Os motivos principais que contribuíram para o começo da guerra foram à ocupação do trono com a morte do rei da França, Filipe, o Belo, Carlos IV, onde dois pretendentes disputavam o trono: o francês Filipe de Valois e Eduardo III, rei da Inglaterra, ambos com parentesco do rei Filipe. O escolhido foi Filipe de Valois através de uma assembléia baseada na Lei Sálica (essa lei proibia a ocupação do trono da França por parte materna, no caso Eduardo III era neto do rei Filipe por parte de mãe). Felipe de Valois passa a ser Felipe IV iniciando a dinastia de Valois.
A região dos Flandres (atual Bélgica e Países Baixos), “importante produtora de tecidos e centro comercial, ligada por laços de vassalagem à França, mas economicamente à Inglaterra, de quem obtinha a lã”. Esta região foi o cenário que desencadeou a guerra, devido a forte concentração comercial e manufatureira, na qual utilizavam a lã inglesa como matéria-prima, com a disputa pelo trono francês a Inglaterra dificultou a importação de matéria-prima para a França e conseqüentemente os produtores franceses sofreram com essas medidas. Foi então que os burgueses franceses buscaram apoio com Eduardo III, sendo que este invadiu essa região, exigindo seus legítimos direitos políticos e territoriais na França por ser neto do rei Filipe. “Eduardo III ordenou um desembarque de um exército em Flandres”, em 1337 a França declara guerra á Inglaterra, e começa uma guerra que durou mais de um século, com uma série de conflitos internos.
A Guerra dos Cem Anos ocorreu nos anos de 1337 -1453 envolvendo França de um lado e Inglaterra de outro. Considerada como início no dia 24 de maio de 1337. Esta guerra foi longa, entretanto com vários períodos de pacificação e até mesmo, conflitos internos, principalmente na França onde Armagnacs – os nacionalistas contra os Borguinhões – do lado inglês. Este conflito originou em 1346 com a morte de Carlos V onde a nobreza francesa dividiu-se nestes dois grupos.
(...)”Os Borguinhões quando foram derrotados pelos Armagnacs recorreram aos ingleses por ajuda. Esta atitude um tanto traiçoeira fez com que os ingleses voltassem à guerra contra os franceses. Em 1940 os ingleses ganharam e Henrique V assumiu o trono francês. O território da França ficou dividido em dois reinos: o norte sob domínio inglês, e governado por Henrique V, apoiado pelos Borguinhões; o sul sob domínio francês e governado por Carlos VII com o apoio dos Armagnacs”.

A Guerra dos 100 anos teve vários períodos e foi cercada por reflexos no cenário medieval, acarretando crise dos sistemas feudais, a formação de um estado absolutista, milhares de mortos, queda na produção agrícola, limites de definição territoriais, entretanto com inúmeras conseqüências que a Europa arcou, originou-se dessa guerra uma líder feminina, com espírito jovem, guerreiro e sobretudo nacionalista que impulsionada também por desejos divinos mostrou um caráter inédito ainda numa guerra feudal, Joana d’Arc teve seu importante papel na história da França e também na Guerra. A guerra levou a uma disputa que duraria por muitos anos entre ingleses e franceses, além da guerra dos 100 anos ter se situado no período de transição da Idade Média para a Idade Moderna.

A guerra foi dividia em quatro períodos:
Primeiro Período (1337 a 1364): Eduardo III após conquistar duas vitórias a primeira na batalha naval de Sluys e a segunda em Crécyen-Pomthieu, garantiu importantes posições no norte da França, até ser beneficiada pelos grandes produtores da região dos Flandres, mas esse avanço foi interrompido pela existência da Peste Negra, sendo que esta foi responsável por interromper a guerra. Mais tarde Eduardo III conta com a ajuda do filho do rei de Navarra, o príncipe de Gales, conhecido como príncipe negro, e esse acordo contribuiu para inúmeras vitórias para o lado inglês, conquistando parte das regiões norte e oeste. Acontecem as revoltas camponesas – Jacquerie, com a insatisfação contra o senhores feudais.
(...) “O filho de João, o Bom, o futuro Carlos V, atendeu as questões internas e negociou a paz com Eduardo III. Em 1360, o Tratado de Brétigny, ratificados em Calais (região do norte francês), deu a Eduardo um considerável número de territórios na França (Calais e todo o sudoeste francês) em troca do abandono de suas reivindicações ao trono francês”.
Segundo Período (1364 a 1380): Neste período a França obteve mais sucesso porquê Carlos V (que assumira o trono da França após a morte de seu pai, João II) não aceitou as imposições feitas no Tratado de Brétignye recuperou parte do território francês, fortalecem a idéia de centralização política submetem a burguesia em cargos de confiança. Morre Eduardo III em 1377, e em 1380 Carlos V.
Terceiro Período (1380 a 1422): Entre o final do século XIV aconteceram as disputas internas nos dois países, amenizando nesse momento a guerra externa. Assumem os tronos, na França Carlos VI, e na Inglaterra Henrique V, nesta fase a Inglaterra começa a sair na frente novamente, pois foi feito um Tratado de Troyes (1420), garantindo a Inglaterra todo o norte do país, até mesmo Paris e principalmente obrigava Carlos VI deserdar do trono, seu filho, Delfim Carlos VII, como Henrique V casou-se com a filha de Carlos VI, ficou com o direito de herdar o trono francês. Em 1422 morria Carlos VI e Henrique V, e assim tanto o trono francês como o inglês, ficavam sem a realeza. Como parte da França estava dividida Delfim Carlos VII assume o trono do sul, com o apoio dos Armagnacs. E o trono inglês e parte do francês ficavam com Henrique VI.
Quarto Período (1422 a 1453): Neste período a resistência por parte de Delfim fica fortificada pelo espírito de astúcia de uma jovem camponesa de Domrémy: Joana d'Arc, dizendo-se enviada por Deus para guiar seus compatriotas na expulsão do exército inglês, com sua bravura ela participou de diversos combates que resultaram em vitórias para os franceses. . Em 1435 foi firmada a paz entre a França e Borgonha e no ano seguinte Paris foi libertada e os ingleses gradualmente derrotados. O fim da guerra é marcado pela batalha de Castillon, em 1453, o fim da guerra, e desde então os ingleses mantiveram apenas Calais, que conservaram até 1558.


http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=565


VICENTINO, Cláudio. DORIGO, Gianpaolo. História para o ensino médio. Volume único. Série parâmetros. Editora Scipione. p. 146-149

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Santa Joana d'Arc


Por Tiago José Bini

A festa da Donzela de Orleans comemora-se em trinta de maio. Agente de Deus, ela, a Donzela de Orleans é venerada pelos católicos do mundo inteiro. Mas nem sempre foi assim após sua morte... A mesma Igreja que hoje a exalta cinco séculos atrás a acusou de herege e a condenou à fogueira...
Na visão de alguns estudiosos e autores o processo de canonização e aceitação de Joana não foi nada fácil uma vez que sua fama foi conquistada por feitos de natureza não especificamente religiosa. Pois os critérios da Igreja para ser chamado santo, necessita que a pessoa tenha levado uma vida de virtude excepcional, na verdade impecável e tenha agido para o bem maior de sua Igreja e de acordo com o evangelho.
A seleção da Igreja é baseada nas três virtudes teológicas (fé, esperança e caridade) e quatro virtudes morais (prudência, justiça, coragem e temperança). No caso de Joana foi difícil de ser aprovada pelo seu modo de vida. Os advogados do diabo de Joana aparecem no processo de canonização não negando a sua pessoa heróica e admirável, mas questionando a sua imperfeição na prática das virtudes observando suas imprudências e seu comportamento errático.
Alguns fatos imperfeitos de sua vida como desobediência aos pais e de não falar a eles de suas vozes, como o pulo de uma torre de sete andares que foi entendido como uma tentativa de suicídio e falta de submissão a juízes injustos, recusando assim o exemplo de Jesus foram apontados pelos advogados do diabo e questionados se esses exemplos constituíam um modelo de obediência fiel. Disseram ainda mais: que sua fé e coragem só estavam presentes nela quando tudo ia bem para a mesma, pois quando foi condenada, o seu desejo de escapar da prisão e as lágrimas e o pavor que lhe tomaram conta quando foi levada para a estaca eram provas de que ela não possuía coragem santa.
Mas a igreja do início do século XX, o papa Pio X e o colégio de cardeais queriam Joana mesmo diante de todas essas evidências negativas. Queriam criar uma santa que trouxesse todas as ovelhas de volta ao aprisco...
O processo que resultou da canonização de Joana começou em 1869, época em que a França achava-se no centro do fenômeno intelectual e social que a Igreja considerou uma das maiores ameaças já enfrentadas por seu poder.

(...) “A canonização de Joana em 1920 pode ser vista como a tentativa da Igreja de recuperar para si a imaginação pública maior. Foi uma resposta à maré do pensamento socialista, anticlerical, que se achava particularmente poderoso no fim da Primeira Guerra Mundial. Muitos na Igreja acreditavam que essa maré, cuja origem estava visivelmente na França, podia potencialmente fazer virar o barco pilotado pelos herdeiros de Pedro no papado. O que se precisava era do lastro da imagem de Joana: a filha popular, e inequivocadamente leal, da Igreja”.

Há uma grande ironia em sua história, pois a mesma Igreja que lhe sentenciou à morte hoje a considera Santa, como uma filha leal da Igreja, tudo isso para o bem maior de uma verdade simbólica claramente visível. A Igreja com isso afastou os mesquinhos padrões dos advogados do diabo e criou uma santa cheia das contradições e imperfeições que fazem senão uma santa, um grande e amável ser humano.

(...) “Ao observá-la à clara luz de suas palavras e atos, a Igreja cria uma imagem não de simplicidade, mas de fascinante complexidade. Foi uma virgem, e morreu pelo que acreditava, mas não se encaixa no tipo das virgens mártires. Ardente, impaciente, gabola, resistente, implacável, ela é, como todos os grandes santos, uma personalidade de gênio. Ao contrário da maioria dos santos, definiu a Igreja em seus próprios termos, não nos da Igreja.”[1]

Uma grande diferença de Santa Joana para as heroínas do Velho Testamento, com as que foi comparada, Judite e Ester, foi que as obras destas foram uma preparação direta para a vinda de Cristo, ao tempo que Joana se gloriou por feitos de natureza não especificamente religiosa, buscando apenas salvar o destino de um país.
Santa Joana oferece inspiração, é uma padroeira da vida ativa, valorizada não por conquistas militares, mas pelo dom de ação apaixonada, incentivada contra possibilidades ridículas, pela graça de não reter nada. Ela foi feita santa por interresses próprios, por motivos errados, mas suas palavras e atos são mais fortes que o selo depositado nela por alguns homens da Igreja.
Em 1869, quase 350 anos depois de sua morte, que teve início o processo formal de canonização, Joana D’Arc foi Beatificada em 18 de abril de 1909 por Pio X, e Canonizada em 1920 por Bento XII.

Oração de Joana D’Arc:

Concedei-me, Ó Pai a coragem e o espírito de sacrifício de vossa serva Joana D`Arc, a fim de que, pelo seu exemplo e fidelidade, seja eu também um soldado da Causa do Evangelho. Por Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém. Santa Joana D´Arc, rogai por nós.

GORDON, Mary. Joana D’Arc: breve biografia. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2000. p. 180-187

Custódia, julgamento e morte.



Por Aline Scherer


Nove meses de lutas e após ter salvado a França e o trono de Carlos VII, Joana d’Arc. foi aprisionada por Jean de Luxenbourg e negociada pelo Duque de Borgonha.
Entregue ao regente inglês, Winchester e levada para Rouen, ao invés de uma prisão eclesiástica, como pedira. Mantida presa após cárcere, com a escassez de comida, Joana lidou constantemente com a ameaça a sua castidade.
Ao entrar no tribunal ainda era passível identificar em seu rosto a confiança de outrora. Seu julgamento não fora político, mas repleto de termos religiosos e na forma da inquisição.Representavam a Igreja Pierre Cauchon, Bispo de Beauvoir e Henry Beaufort, Cardeal da Inglaterra.Os interesses políticas foram representados pelo Conde de Warwick, governador do castelo onde Joana estava presa, já em sua prisão o regente fora bem claro: que Joana deveria queimar viva na fogueira.Porem não somente ingleses tinham interesse em seu desaparecimento, Georges de la Tremoille, e o Arcebispo de Regnault e também Carlos VII mantinha-se omisso a situação de Joana.
Desde a prisão de Joana d’Arc a ordem do Regente fora bastante clara: deveria ser condenada a queimar viva na fogueira.Os poucos que se manifestaram sobre as irregularidades do julgamento ou questionaram a autoridade foram duramente censurados e se calaram.
Acusada de idolatria, heresia, apostata, bruxa e travestida, Joana foi interrogada a ponto da exaustão e confusão mental, apesar de muitas vezes habilmente ter confundido os juizes com suas respostas vagas ou sua negativa em respondê-las.
Joana ainda fora excomungada, rasparam-lhe a cabeça e vestiram o traje de penitencia feminino.Assinara também a abjuração (há duvidas sobre que tipo de documento assinara) acreditando que esta a libertaria da prisão, que comprara sua liberdade.
Condenada como herege, Cauchon ainda permitira que recebesse os sacramentos. Ao ser amarrada na pira pediu que diante de seus olhos segurassem um crucifixo, gritara ainda por seis vezes “Jesus”.Lentamente morrera, o carrasco havia recebido ordens para manterem-na longe das chamas.Morrera sozinha em 31/05/1431 aos 19 anos de idade, seu corpo fora exposto a multidão, depois de saciada a curiosidade novamente o fogo fora acesso reduzindo a cinzas o corpo daquela que 18 anos depois seria novamente julgada e considerada inocente.

BAEZA, José, A prisão, In: ______A vida de Joana d'Arc A donzela de Orléans.Editora Tecnoprint. p . 108-125

GORDON, Mary. Joana d’Arc: breve biografia. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2000.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Joana nas artes



Por Mariana Ouriques

A riqueza que a vida de Joana d’Arc representa fez com que surgissem verdadeiras obras-primas dentro das artes, tendo a donzela de Orleans como protagonista.
Joana foi recriada por grandes nomes como Shakespeare, Voltaire, Schiller. E da imagem de Joana a refizeram e moldaram sua história. Mas as escolhas dos artistas se baseiam no que serve a seus talentos e suas convicções sobre o que importa o mundo.
E falando em escolhas e convicções podemos ver as aparentes caricaturas feitas de Joana d’Arc dentro das artes. E como me parece impossível abarcar tudo o que foi dito sobre nossa personagem, pois existem somente na Bibliotheque Nationale de Paris mais de 20.000 títulos sobre sua vida. Vou mostrar como alguns destes grandes artistas retrataram Joana d’Arc.
A começar por William Shakespeare, que de suas geniais e imortais obras, nos trouxe Joana d’Arc à tona em Henrique VI. A moça guerreira, que ouvia vozes de santos, a donzela que lutou por sua causa em nome da fé parece desaparecer ao lado da Joana shakespeareana.
Com um traço nacionalista, o inglês Shakespeare, a condena como uma prostituta e mais ainda como uma bruxa, assim ela é vista nesta obra, como que suas bruxarias fossem a razão para o qual os britânicos tivessem sido derrotados pelo militarmente inferior exército francês.
Apresentado como um cruzamento de Carlos Magno e Jesus Cristo, o personagem Talbot se mostra impaciente com a língua francesa, sobre o delfim e La pucelle: “Pucelle ou pussel? Delfim ou dogfish? Vossos corações eu marcarei com os cascos do meu cavalo.” (Shakespeare, 1589)”. Pussel é o mesmo que prostituta e dogfish, a pesca mais indigna.
Quando a Joana de Shakespeare encaminha-se para o cumprimento da sentença de morte na fogueira, ela declara-se grávida e grita a seus carrascos:

Que o glorioso sol jamais reflita seus raios
Sobre o país onde tendes morada:
Mas trevas e a negra sombra da morte
Vos cerquem, até que a maldade e o desespero Vos levem a quebrar vossos pescoços e enforcar-vos.
(Shakespeare, 1589)

Assusta ver uma Joana grávida, bruxa que sem pudor chama à desgraça aos carrascos? Pois uma Joana com o olhar do alemão Schiller com o título de A Donzela de Orleans escrito em 1801 traz uma outra Joana. Esta agora, é uma mulher que desperta o amor de dois homens, Dunais e Alençon, mas Joana está imune aos encantos dos dois rapazes.
Porém esta Joana conhece um cavaleiro inglês, Lionel, a quem não ataca.

Quem? Eu? A imagem de um homem
Em meu puro coração digno de trazer?
Este coração, que o fulgor do céu cobriu.
Ousa ele em amor terreno agora atormentar-se?

Eu, a libertadora da pátria,
Protetora do altíssimo Deus,
Pelo inimigo de meu país inflamada?
Pode isto ao casto sol ser dito.
E eu não destruída de vergonha?
(Schiller, 1801)

Esta Joana é acusada de bruxaria por seu próprio pai, por ela ter sempre negado os rapazes. Ela então foge para floresta e é capturada pelos ingleses. Joana passa pelos cuidados da mãe do rei Carlos que a leva para ser desposada por Lionel. Mas esta foge ao lado do seu delfim e é ao lado do seu rei que ela morre, não queimada, mas em combate.
O inglês, o alemão e porque não um italiano?
Na ópera de Giuseppe Verdi, intitulada Giovanna d’Arco estreado em 1845 em Milão com o libreto de Tomistocle Solera temos uma Joana acusada por desonrar a família, com um pai que a acusa de ser amante do delfim.
Ela ouvirá um coro demoníaco que a acusa de ingratidão por desperdiçar os dons da juventude e permanecer na castidade.

Moça maluca
Estas apaixonada, que fazes?
Se perderes a flor do amor,
Ela logo morrerá e jamais retornará
. (Solera, 1845)

Foi expulsa de casa por seu pai e abraça, então, a vida militar. Após ser capturada pelos ingleses, Joana é encarcerada em uma torre, onde seu pai por coincidentemente também se encontra e a ouve rezar, e descobre que fez uma injustiça e a pede perdão.
Tomada pela emoção da reconciliação com seu pai, Giovanna d’Arco quebra seus grilhões e retorna para o campo de batalha ao lado de Carlos onde morrerá, assim como na obra de Schiller, em combate.


GORDON, Mary. Joana d’Arc: breve biografia. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2000. p. 163-179.

SHAKESPEARE, William. Henrique VI. 1589

SHILLER, Johann. A Donzela de Orleans. 1801