Por Tiago José Bini
A festa da Donzela de Orleans comemora-se em trinta de maio. Agente de Deus, ela, a Donzela de Orleans é venerada pelos católicos do mundo inteiro. Mas nem sempre foi assim após sua morte... A mesma Igreja que hoje a exalta cinco séculos atrás a acusou de herege e a condenou à fogueira...
Na visão de alguns estudiosos e autores o processo de canonização e aceitação de Joana não foi nada fácil uma vez que sua fama foi conquistada por feitos de natureza não especificamente religiosa. Pois os critérios da Igreja para ser chamado santo, necessita que a pessoa tenha levado uma vida de virtude excepcional, na verdade impecável e tenha agido para o bem maior de sua Igreja e de acordo com o evangelho.
A seleção da Igreja é baseada nas três virtudes teológicas (fé, esperança e caridade) e quatro virtudes morais (prudência, justiça, coragem e temperança). No caso de Joana foi difícil de ser aprovada pelo seu modo de vida. Os advogados do diabo de Joana aparecem no processo de canonização não negando a sua pessoa heróica e admirável, mas questionando a sua imperfeição na prática das virtudes observando suas imprudências e seu comportamento errático.
Alguns fatos imperfeitos de sua vida como desobediência aos pais e de não falar a eles de suas vozes, como o pulo de uma torre de sete andares que foi entendido como uma tentativa de suicídio e falta de submissão a juízes injustos, recusando assim o exemplo de Jesus foram apontados pelos advogados do diabo e questionados se esses exemplos constituíam um modelo de obediência fiel. Disseram ainda mais: que sua fé e coragem só estavam presentes nela quando tudo ia bem para a mesma, pois quando foi condenada, o seu desejo de escapar da prisão e as lágrimas e o pavor que lhe tomaram conta quando foi levada para a estaca eram provas de que ela não possuía coragem santa.
Mas a igreja do início do século XX, o papa Pio X e o colégio de cardeais queriam Joana mesmo diante de todas essas evidências negativas. Queriam criar uma santa que trouxesse todas as ovelhas de volta ao aprisco...
O processo que resultou da canonização de Joana começou em 1869, época em que a França achava-se no centro do fenômeno intelectual e social que a Igreja considerou uma das maiores ameaças já enfrentadas por seu poder.
(...) “A canonização de Joana em 1920 pode ser vista como a tentativa da Igreja de recuperar para si a imaginação pública maior. Foi uma resposta à maré do pensamento socialista, anticlerical, que se achava particularmente poderoso no fim da Primeira Guerra Mundial. Muitos na Igreja acreditavam que essa maré, cuja origem estava visivelmente na França, podia potencialmente fazer virar o barco pilotado pelos herdeiros de Pedro no papado. O que se precisava era do lastro da imagem de Joana: a filha popular, e inequivocadamente leal, da Igreja”.
Há uma grande ironia em sua história, pois a mesma Igreja que lhe sentenciou à morte hoje a considera Santa, como uma filha leal da Igreja, tudo isso para o bem maior de uma verdade simbólica claramente visível. A Igreja com isso afastou os mesquinhos padrões dos advogados do diabo e criou uma santa cheia das contradições e imperfeições que fazem senão uma santa, um grande e amável ser humano.
(...) “Ao observá-la à clara luz de suas palavras e atos, a Igreja cria uma imagem não de simplicidade, mas de fascinante complexidade. Foi uma virgem, e morreu pelo que acreditava, mas não se encaixa no tipo das virgens mártires. Ardente, impaciente, gabola, resistente, implacável, ela é, como todos os grandes santos, uma personalidade de gênio. Ao contrário da maioria dos santos, definiu a Igreja em seus próprios termos, não nos da Igreja.”[1]
Uma grande diferença de Santa Joana para as heroínas do Velho Testamento, com as que foi comparada, Judite e Ester, foi que as obras destas foram uma preparação direta para a vinda de Cristo, ao tempo que Joana se gloriou por feitos de natureza não especificamente religiosa, buscando apenas salvar o destino de um país.
Santa Joana oferece inspiração, é uma padroeira da vida ativa, valorizada não por conquistas militares, mas pelo dom de ação apaixonada, incentivada contra possibilidades ridículas, pela graça de não reter nada. Ela foi feita santa por interresses próprios, por motivos errados, mas suas palavras e atos são mais fortes que o selo depositado nela por alguns homens da Igreja.
Em 1869, quase 350 anos depois de sua morte, que teve início o processo formal de canonização, Joana D’Arc foi Beatificada em 18 de abril de 1909 por Pio X, e Canonizada em 1920 por Bento XII.
Oração de Joana D’Arc:
Concedei-me, Ó Pai a coragem e o espírito de sacrifício de vossa serva Joana D`Arc, a fim de que, pelo seu exemplo e fidelidade, seja eu também um soldado da Causa do Evangelho. Por Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém. Santa Joana D´Arc, rogai por nós.
Na visão de alguns estudiosos e autores o processo de canonização e aceitação de Joana não foi nada fácil uma vez que sua fama foi conquistada por feitos de natureza não especificamente religiosa. Pois os critérios da Igreja para ser chamado santo, necessita que a pessoa tenha levado uma vida de virtude excepcional, na verdade impecável e tenha agido para o bem maior de sua Igreja e de acordo com o evangelho.
A seleção da Igreja é baseada nas três virtudes teológicas (fé, esperança e caridade) e quatro virtudes morais (prudência, justiça, coragem e temperança). No caso de Joana foi difícil de ser aprovada pelo seu modo de vida. Os advogados do diabo de Joana aparecem no processo de canonização não negando a sua pessoa heróica e admirável, mas questionando a sua imperfeição na prática das virtudes observando suas imprudências e seu comportamento errático.
Alguns fatos imperfeitos de sua vida como desobediência aos pais e de não falar a eles de suas vozes, como o pulo de uma torre de sete andares que foi entendido como uma tentativa de suicídio e falta de submissão a juízes injustos, recusando assim o exemplo de Jesus foram apontados pelos advogados do diabo e questionados se esses exemplos constituíam um modelo de obediência fiel. Disseram ainda mais: que sua fé e coragem só estavam presentes nela quando tudo ia bem para a mesma, pois quando foi condenada, o seu desejo de escapar da prisão e as lágrimas e o pavor que lhe tomaram conta quando foi levada para a estaca eram provas de que ela não possuía coragem santa.
Mas a igreja do início do século XX, o papa Pio X e o colégio de cardeais queriam Joana mesmo diante de todas essas evidências negativas. Queriam criar uma santa que trouxesse todas as ovelhas de volta ao aprisco...
O processo que resultou da canonização de Joana começou em 1869, época em que a França achava-se no centro do fenômeno intelectual e social que a Igreja considerou uma das maiores ameaças já enfrentadas por seu poder.
(...) “A canonização de Joana em 1920 pode ser vista como a tentativa da Igreja de recuperar para si a imaginação pública maior. Foi uma resposta à maré do pensamento socialista, anticlerical, que se achava particularmente poderoso no fim da Primeira Guerra Mundial. Muitos na Igreja acreditavam que essa maré, cuja origem estava visivelmente na França, podia potencialmente fazer virar o barco pilotado pelos herdeiros de Pedro no papado. O que se precisava era do lastro da imagem de Joana: a filha popular, e inequivocadamente leal, da Igreja”.
Há uma grande ironia em sua história, pois a mesma Igreja que lhe sentenciou à morte hoje a considera Santa, como uma filha leal da Igreja, tudo isso para o bem maior de uma verdade simbólica claramente visível. A Igreja com isso afastou os mesquinhos padrões dos advogados do diabo e criou uma santa cheia das contradições e imperfeições que fazem senão uma santa, um grande e amável ser humano.
(...) “Ao observá-la à clara luz de suas palavras e atos, a Igreja cria uma imagem não de simplicidade, mas de fascinante complexidade. Foi uma virgem, e morreu pelo que acreditava, mas não se encaixa no tipo das virgens mártires. Ardente, impaciente, gabola, resistente, implacável, ela é, como todos os grandes santos, uma personalidade de gênio. Ao contrário da maioria dos santos, definiu a Igreja em seus próprios termos, não nos da Igreja.”[1]
Uma grande diferença de Santa Joana para as heroínas do Velho Testamento, com as que foi comparada, Judite e Ester, foi que as obras destas foram uma preparação direta para a vinda de Cristo, ao tempo que Joana se gloriou por feitos de natureza não especificamente religiosa, buscando apenas salvar o destino de um país.
Santa Joana oferece inspiração, é uma padroeira da vida ativa, valorizada não por conquistas militares, mas pelo dom de ação apaixonada, incentivada contra possibilidades ridículas, pela graça de não reter nada. Ela foi feita santa por interresses próprios, por motivos errados, mas suas palavras e atos são mais fortes que o selo depositado nela por alguns homens da Igreja.
Em 1869, quase 350 anos depois de sua morte, que teve início o processo formal de canonização, Joana D’Arc foi Beatificada em 18 de abril de 1909 por Pio X, e Canonizada em 1920 por Bento XII.
Oração de Joana D’Arc:
Concedei-me, Ó Pai a coragem e o espírito de sacrifício de vossa serva Joana D`Arc, a fim de que, pelo seu exemplo e fidelidade, seja eu também um soldado da Causa do Evangelho. Por Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém. Santa Joana D´Arc, rogai por nós.
GORDON, Mary. Joana D’Arc: breve biografia. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2000. p. 180-187
Um comentário:
Não sabia que ela tinha sido canonizada. É um fato um tanto anormal pra igreja católica, primeiro condenar e depois transformá-la em santa. Mas como o texto diz, sempre tem um porque por trás.
Belo trabalho.
Míriam Machado
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